Hérnia de disco: quando operar e quando não operar?

COLUNA VERTEBRAL

Dr. Marcos Alcino Soares S. Marques Jr.

7/3/20253 min read

Esse é um dos diagnósticos mais frequentes que atendo no consultório — e também um dos que mais geram dúvidas e ansiedade.

É comum o paciente chegar com uma ressonância em mãos, ver o termo "hérnia de disco" no laudo, e já achar que vai precisar de cirurgia. Mas a realidade é bem diferente: a maioria das hérnias de disco não precisa de cirurgia, e muitas nem causam sintomas relevantes.

Como neurocirurgião com atuação também em cirurgia da coluna, meu papel é justamente esse: entender o que realmente está causando a dor, avaliar o grau de comprometimento neurológico e indicar o melhor tratamento com critério.

Afinal, o que é uma hérnia de disco?

Entre cada vértebra da nossa coluna existe um disco intervertebral — uma estrutura que funciona como um amortecedor natural, permitindo mobilidade e absorvendo o impacto das atividades do dia a dia. Em alguns casos, seja por desgaste, sobrecarga ou predisposição, esse disco pode se deslocar ou se romper parcialmente, comprimindo estruturas nervosas próximas.

Quando isso acontece na coluna lombar, o nervo comprimido geralmente vai para a perna — e o paciente sente dor irradiada, formigamento, sensação de choque ou queimação, o que muitos chamam de “ciática”.
Já quando a hérnia ocorre na coluna cervical, os sintomas afetam os braços e mãos — com dor, dormência ou perda de força em um dos membros superiores.

Os sintomas mais comuns são:

  • Dor irradiada (para perna ou braço, dependendo da localização);

  • Parestesias (formigamento, sensação de dormência);

  • Choques, queimação ou fisgadas;

  • Fraqueza muscular, em casos mais avançados.

A maioria melhora com tratamento conservador

Na prática, mais de 90% dos pacientes com hérnia de disco melhora com tratamento clínico — ou seja, sem cirurgia. Esse tratamento inclui:

  • Medicamentos anti-inflamatórios e neuromoduladores;

  • Fisioterapia direcionada e com reeducação postural;

  • Bloqueios anestésicos (quando há dor muito intensa);

  • Mudanças de hábito — ergonomia, atividade física regular.

Os bloqueios, por exemplo, ajudam a aliviar a dor de forma rápida, reduzindo o processo inflamatório ao redor do nervo. Isso permite que o paciente volte a se movimentar e siga com a fisioterapia de forma mais eficaz.

Quando a cirurgia é indicada?

A cirurgia é indicada apenas quando realmente necessária. Ela consiste em remover a hérnia e descomprimir o nervo em sofrimento. Entre as principais indicações estão:

  • Déficit neurológico (perda de força ou sensibilidade importante)

  • Dor intensa e contínua, sem melhora após várias semanas de tratamento conservador

  • Hérnias volumosas que comprimem fortemente a medula ou as raízes nervosas

  • Complicações específicas, como a síndrome da cauda equina (situação rara, mas grave)

Hoje em dia, a maioria das cirurgias é feita com técnicas minimamente invasivas, com cortes pequenos, menos sangramento e recuperação mais rápida. A decisão de operar é sempre baseada em exame físico, imagem, e principalmente, no quadro clínico do paciente — nunca só no laudo da ressonância.

Conclusão: cada caso é um caso

Se você tem hérnia de disco, isso não significa que vai precisar operar. Significa que é hora de investigar, tratar com atenção e só seguir para cirurgia se houver indicação real.

Aqui no consultório, minha conduta é sempre baseada em critério, evidência e foco em resultado. Quando indico uma cirurgia, é porque acredito sinceramente que ela vai resolver o problema do paciente — e nunca como primeira opção automática.

Se você está convivendo com dor lombar ou dor irradiada, marque uma avaliação. Vamos entender juntos o que está acontecendo e qual o melhor caminho para resolver de forma segura e eficiente.

Imagem explicativa de uma hérnia de disco.
Masaryk TJ, Ross JS, Modic MT, Boumphrey F, Bohlman H, Wilber G (1988) High-resolu- tion MR imaging of sequestered lumbar intervertebral disks. AJR Am J Roentgenol 150:1155 – 62

Os bloqueios (infiltrações), guiados por raio-x ou ultrassonografia, são uma modalidade segura para alívio imediato da dor naqueles pacientes sem indicação de cirurgia.

A dor da hérnia de disco pode ser altamente incapacitante, impedindo o paciente de realizar até mesmo movimentos simples, como levantar de uma cadeira.

Ressonância magnética com evidência de hérnia de disco lombar.