A pergunta que ninguém quer fazer

COLUNA VERTEBRAL

Dr. Marcos Alcino Jr.

7/17/20252 min read

Um dia de consultório como outro qualquer. Último paciente.

Uma senhora me olha nos olhos, aperta as mãos nos braços da cadeira e pergunta, quase num sussurro:

— Doutor… e se eu ficar paralítica?

Não é a primeira vez que ouço isso. Mas sempre me faz pausar.

Essa pergunta, na verdade, é feita por muitos. Nem sempre com essas palavras. Às vezes, ela vem disfarçada de “vou pensar mais um pouco”, “vou falar com meu marido / minha esposa”, ou “li na internet que…”.

Mas, no fundo, o medo é esse: a cadeira de rodas.

E eu entendo.

Entendo porque não estamos falando de qualquer coisa.
Estamos falando da sua coluna.
Da sua autonomia.
Da sua vida.

Só que também preciso dizer o que talvez ninguém tenha dito:
quando você escolhe não operar, você também está tomando uma decisão.

A decisão de conviver com a dor.
De arriscar a cronificação do quadro.
De impactar sua qualidade de vida.
E, em alguns casos mais específicos, de evoluir para uma lesão neurológica permanente, com fraqueza, incontinência — ou até paralisia.

Essa é a realidade que muitos preferem suavizar.
Eu não.
Eu prefiro respeitar você com a verdade.

“Ah, doutor, mas meu vizinho operou e ficou pior.”

Sim. E eu também conheço casos assim.
Mas cada história é uma história. E a sua precisa ser ouvida como única.

A medicina de hoje não é feita de achismos.
É feita de análise. De precisão. De indicação certa, na hora certa.
Temos técnicas que vão das abordagens menos invasivas às cirurgias complexas — todas pensadas com responsabilidade e critério.

Mas, acima de tudo, temos a obrigação de conversar.
Sem pânico.
Sem generalizações.
Sem decisões pautadas por comentários de rede social.

Sim, toda cirurgia tem riscos.
E eu não fujo disso.
Aliás, faço questão de assumir esse risco junto com você — como alguém que se preparou a vida inteira para tomar decisões difíceis com segurança, clareza e sobriedade.

Porque, quando indico uma cirurgia, é porque acredito nela.
Não como um atalho.
Mas como um caminho possível — muitas vezes, o único — para interromper um ciclo de dor que só piora com o tempo.

Hoje, eu não vim te dar uma aula sobre hérnia de disco.

Eu vim te lembrar que o medo é legítimo. Mas ele não pode ser soberano.

A decisão de não tratar também é uma escolha. E, muitas vezes, o risco maior está em não agir.